1 Se tudo é patológico
Exceto a indiferença
Será igualmente doentio
Cuidar ou não de tua crença
2 Enquanto todo refinamento fracassa
A vitalidade avança sem pudores
Prostitutas vendem o corpo nas calçadas
A zombar do filósofo e seus amargores
3 Com os santos, os sábios, os estetas
O poeta compartilha pão e vinho
E por falta de modéstia ou critérios
Vê neles seus iguais e bons vizinhos
4 Salva-se o poeta só pela poesia
Fora dela dará adeus ao ofício
Pois - salvo - será menos que farsante
Um ex-amante de puras vertigens
5 A morte tem amparo
Nas premissas mais simples
Não acumula mistérios
Deixa-os para a vida
6 Queimar ilusões não é desacerto
Rifa-se no fim do dia ao menos uma
E não se leva a zero seu acervo
Mesmo nos funerais haverá alguma
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