Almoçavas na relva
E o teu olhar estava à margem das conversas
Tua nudez traçada em curvas
Ganhava com esse olhar o apelo das uvas
Dizer-te só modelo não significaria tanto
Melhor designar-te como musa - ainda que tardia
Também não caberia lançar panos sobre ti
Tão longe dos nossos salões elegantes
Almoçavas na relva
E o teu olhar parecia transpor àquele instante
Parecia um desafio silente
Atravessando a clareira como flecha certeira
Como se fora uma cria daquela cabeça que dizia:
"Decifra-me ou te devoro"
Almoçavas na relva
E desafiavas a maestria dos decifradores de códigos
Desafio feito nos olhos
Como antes fora visto em um quase sorriso
Mas do almoço não participava
Nenhuma jovem esposa de comerciante florentino
Via-se somente (com interesse artístico ou libertino)
As formas de uma mulher livre e seus olhos grandes
Uma mera fotografia não levaria adiante a riqueza
Daquela composição impactante
Pois almoçavas na relva
E motivavas a beleza - não sendo tu exatamente bela
E fazendo mais do que te permitia a natureza
Motivaste uma noção de estética
Motivaste uma ideia interessante
Como se não fora bastante tua nudez na relva
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