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ELOGIO DA MEDIOCRIDADE

Disse Anna Magnani em Roma

Não ter confiança em Fellini

Escondido atrás da câmera


Estava certa a loba romana

Só medíocres merecem confiança



É meu o poeminha acima. Nele pareço louvar um diretor e uma atriz do cinema italiano - definitivamente inscritos no rol dos artistas que admiro. Mas a verdadeira louvação, percebam, é feita aos medíocres. Lembrei daqueles versos quando tentei escrever algumas linhas a meu respeito – apresentando-me a algum leitor que se depare com esta página.

Uma lembrança em harmonia com o fato de que sempre fui acompanhado pela mediocridade. Constatação que não tenho como necessariamente ruim. Pois, ao contrário do que se nota nos geniais, os medíocres vulgarizam até as instabilidades da própria existência. Sem eles, adeus mundo festivo! Além disso, repita-se, os medíocres são mais passíveis de confiança.

Acrescente-se que mediocridade é um termo que se costuma usar com uma conotação pesadamente negativa, em especial no âmbito corporativo do universo capitalista. Mas na origem a palavra se refere apenas a coisas e pessoas medianas; por exemplo: arroz com feijão, paçoquinha, cerveja não artesanal, o atual cinema de Hollywood, celebridades televisivas, eu, tu, eles...



Como se vê, usá-la de forma negativa é um desvirtuamento do sentido original, como também ocorreria se usada com tendência exageradamente positiva. Em relação ao ser humano, a prevalecer o sentido mais preconceituoso da palavra, nem mesmo estaria contemplada a possibilidade sempre presente de momentos acima ou abaixo da média, distantes tanto da genialidade quanto da nulidade.

Felizmente, a tendência depreciativa parece adquirir certa condescendência quando o medíocre se entrega a algum esforço qualitativo. Fala-se até em meritocracia.

Acreditando nesse suposto abrandamento, resolvi publicar o resultado de minhas ambições literárias, posto que a ambição é tida hoje como qualidade mais que desejável, essencial - embora ridícula a pretensão de ouvir de um ou dois críticos, dentre os milhões existentes na internet, o comentário: ele é medíocre, mas esforçado.

Por fim, peço desculpas aos geniais, considerando o que disse acima a respeito deles.

Em seguida, apresento uma série de poemetos escritos (quase totalmente) durante uma recente pandemia. E caso se confirme esse abrandamento crítico, talvez eu publique outras bobagens. Calma! Eu disse “talvez”.

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