Quando decidi publicar meu primeiro livro fiz contato com uma editora instalada no município de Olinda, tratando inicialmente através de e-mail.
Marcada a primeira reunião presencial, tive a grata oportunidade de me encontrar com Tarcísio Pereira, ex-dono da Livro 7, a mais importante livraria de Pernambuco de todos os tempos. Sim, ele seria o editor de meu livro.
Logo contei a Tarcísio que no meu tempo de universitário, geralmente no final da tarde, antes de me dirigir ao prédio da faculdade na Praça Adolfo Cirne, eu passava primeiro naquela livraria, onde costumeiramente alguns colegas já me aguardavam. E como ali também funcionava um bar bastante concorrido, era comum perdermos algumas aulas.
Apesar desse comportamento faltoso, todos conseguimos concluir o curso ao mesmo tempo, permitindo-me o entendimento de que éramos alunos razoáveis. Contei ainda o fato de que não compareci ao baile de formatura no Clube Internacional, mas na semana anterior a essa festa participei de uma farra de confraternização naquele bar. (Por que não mencionei a saudade?)
Tarcísio não me parecia feliz – não sei se em relação ao que estava fazendo ou talvez as lembranças não fossem assim tão boas. Mas estendendo-se a conversa, ele passou a comandá-la. Contou-me a respeito de situações engraçadas que viveu naquele estabelecimento - e de outras não tão agradáveis, tendo em vista o que acontecera na política do Brasil durante a maior parte do tempo em que a livraria funcionou.
Terminamos falando pouquíssimo sobre o meu livro, o que motivou um segundo encontro, no qual ele pareceu ainda menos feliz (ainda hoje imagino se não me enganei quanto a isso).
Nessa segunda oportunidade, ele elogiou o título que escolhi (Saudades da Boa Índole). E analisou a questão relativa ao uso de dois desenhos que fiz para a capa - um deles sobre a imagem do vampiro Nosferatu; o outro, sobre a tristemente famosa fotografia de uma menina vietnamita, correndo nua e chorando, vítima de um ataque feito com napalm pelos americanos.
Havia dúvidas quanto à pertinência da utilização desses desenhos, mas Tarcísio concluiu que inexistia qualquer plágio ou inadequação, considerando que fiz os créditos pertinentes, além de se tratar de um recurso rudimentar e não exatamente cópias. Não lembro de ele ter feito algum comentário sobre a qualidade do texto, o que me leva a suspeitar que talvez o conteúdo não tenha sido de seu agrado.
Essas duas reuniões ocorreram no ano de 2010. Mais tarde, quando remeti o original do meu segundo livro para a mesma editora, no ano de 2012, parecia que novamente eu me encontraria com Tarcísio. Mas nela ele não mais atuava. Assim, as discussões para a publicação foram travadas com duas funcionárias que haviam trabalhado com o meu primeiro editor, apesar de o nome dele ter constado ainda nesse segundo trabalho.
O que importa é a boa lembrança que guardo daquelas duas conversas. Além do orgulho de ter tido um livro meu editado por Tarcísio Pereira.
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